domingo, 13 de março de 2011

Mergulhar no mundo de Lorca - CONVERSA SOBRE TEATRO

Conferência de Federico García Lorca

Nos primeiros parágrafos da conferência, Lorca repele qualquer tipo de homenagem:

“Não há coisa mais desolada do que o discurso frio em nossa honra, nem momento mais triste que o aplauso organizado, ainda que seja de boa fé. Além do que, creio que banquetes e pergaminhos trazem má sorte ao homem que as recebe; má sorte nascida atitude descansada dos amigos que pensam: ‘Já cumprimos com ele’.”

“Exigência e luta, com um fundo de amor severo, temperam a alma do artista, que se feminiza e destrói com o fácil afago.”

“Os teatros estão cheios de sereias coroadas com rosas de inverno, e o público está satisfeito e aplaude vendo corações de serragem e diálogos a flor do dentes; mas o poeta dramático não deve esquecer, se quer se salvar do esquecimento, os campos de rosas, molhados do amanhecer, onde sofrem os lavradores, e esse pombo, ferido por um caçador misterioso, que agoniza entre os juncos sem que ninguém escute seus gemidos.”

Ao falar sobre Yerma: “(…) mas não tenho maior alegria na minha curta vida de autor do que inteirar-me de que a família teatral de Madrid pedia a grande Margarita Xirgu, atriz de imaculada história artística, luz do teatro espanhol e admirável criadora do papel, com a companhia que tão brilhantemente a secunda, uma representação especial para vê-la.”

A função do teatro: “O teatro é um doa mais expressivos e úteis instrumentos para a edificação de um país e marcador de sua grandeza. Um teatro sensível e bem orientado em todos os seus ramos, pode mudar em poucos anos a sensibilidade do povo; e um teatro destroçado, pode adormecer uma nação inteira. O teatro é uma escola de lágrimas e riso e um tribunal livre onde os homens podem por em evidência morai velhas ou novas e explicar com exemplos vivos normas eternas do coração e o sentimento humano.”

“Um povo que não ajuda e não estimula seu teatro, se não estiver morto, está moribundo; como o teatro que não recorre ao pulso social, ao pulso histórico, o drama de sua gente, e a cor genuína de sua paisagem e espírito, com risos e lágrimas, não tem o direito de chamar-se teatro, mas sim uma sala de jogos para se fazer essa coisa horrível que se chama ‘matar o tempo’”.

Sobre a crise do teatro: “Enquanto que atores e autores estão nas mãos de empresas absolutamente comerciais, livres e sem nenhum controle literário nem estatal de nenhuma espécie, os atores, autores e o teatro inteiro se afundarão cada dia mais, sem salvação possível. O teatro em verso, o gênero histórico e a chamada opereta espanhola sofrerão cada dia mais porque são gêneros que exigem muito e onde cabem inovações verdadeiras.”

“O teatro deve se impor ao público, e não o público ao teatro. Há necessidade de se fazer isso pelo bem do teatro, e para glória e hierarquia dos intérpretes (…)O contrário é tremer de medo e matar as fantasias, a imaginação e a graça do teatro, que é sempre, sempre uma arte.”

“Arte nobilíssima, e vós, atores, artistas acima de todos. Artistas dos pés a cabeça, posto que por amor e vocação, subiram ao mundo fingido e doloroso do palco. Artistas por ocupação e preocupação.”

“Eu sei que não tem razão aquele que diz: “Agora mesmo, agora” com os olhos postos nas pequenas faces da bilheteria, mas sim o que diz “Amanhã, amanhã, amanhã” e sente chegar uma nova vida que cerne sobre o mundo.”



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